Projetos famosos de Burle Marx no Rio e sua influência atual

Roberto Burle Marx é um dos nomes mais emblemáticos do paisagismo mundial — e sua conexão com o Rio de Janeiro é profunda e duradoura. Artista plástico, botânico autodidata e visionário, ele transformou a maneira como o Brasil e o mundo entendem o paisagismo, unindo natureza, arte e identidade cultural.

Seus projetos no Rio de Janeiro não apenas embelezaram a cidade, mas também influenciaram gerações de arquitetos, urbanistas e paisagistas. Neste artigo, vamos explorar suas obras mais icônicas na cidade e como sua estética continua viva no paisagismo contemporâneo.


1. Calçadão de Copacabana: um ícone mundial

Talvez o projeto mais reconhecido de Burle Marx, o calçadão de Copacabana, foi reformulado por ele na década de 1970. Com seu famoso padrão ondulado em preto e branco, inspirado nas calçadas portuguesas, o calçadão tornou-se um símbolo visual do Rio e do Brasil.

Além da estética marcante, o projeto incorporava conceitos de fluidez, integração com o mar e mobilidade urbana, mostrando que o paisagismo pode dialogar com a vida cotidiana.

Hoje, o calçadão é cartão-postal, cenário de eventos culturais e políticos, e exemplo de como o design paisagístico pode se fundir com o imaginário coletivo de um povo.


2. Aterro do Flamengo: natureza no coração da cidade

Um dos maiores projetos urbanos de Burle Marx é o Parque do Aterro do Flamengo, inaugurado em 1965. Com mais de um milhão de metros quadrados, foi concebido como um parque linear que conecta o Centro ao bairro da Glória e ao Flamengo.

O Aterro mistura áreas esportivas, jardins, ciclovias e espaços de lazer, com um paisagismo que valoriza espécies tropicais, curvas suaves e integração com o relevo natural. É um espaço vivo, usado diariamente por cariocas para lazer, esporte e contemplação.

Esse projeto é considerado um dos maiores parques urbanos do mundo à beira-mar e demonstra o talento de Burle Marx em lidar com grandes escalas e espaços públicos.


3. Jardim do Museu de Arte Moderna (MAM)

Localizado no Aterro do Flamengo, o jardim do MAM-RJ é uma obra que complementa a arquitetura modernista do museu, assinada por Affonso Eduardo Reidy.

Burle Marx criou um espaço fluido, com gramados ondulados, espécies nativas e caminhos orgânicos, que conversam com a estrutura do edifício e a paisagem da Baía de Guanabara. É um exemplo claro de diálogo entre arte, arquitetura e paisagem, marca registrada de sua carreira.


4. Sítio Roberto Burle Marx, em Barra de Guaratiba

Embora fora da zona urbana central, o Sítio Burle Marx é uma das obras mais significativas do paisagista. Ali, ele viveu, pesquisou e cultivou centenas de espécies vegetais brasileiras e tropicais. Hoje, o local é Patrimônio Mundial da UNESCO, reconhecido como um exemplo de jardim botânico com valor artístico e científico.

O sítio também é espaço de preservação ambiental, estudo de botânica e visitação cultural, mantendo viva sua contribuição à biodiversidade e ao paisagismo nacional.


Influência atual no paisagismo brasileiro

O legado de Burle Marx vai muito além da estética. Ele foi pioneiro ao:

  • Valorizar plantas brasileiras, antes desprezadas pelos próprios brasileiros;
  • Utilizar o paisagismo como expressão artística e política;
  • Integrar arte, arquitetura e natureza em projetos funcionais e duradouros;
  • Combinar formas orgânicas, cores vivas e materiais locais.

Hoje, paisagistas de todo o país e do mundo seguem seus princípios: uso consciente da vegetação, respeito ao bioma local, integração entre ambiente e ser humano, e compromisso com a sustentabilidade.

No Rio, novos projetos continuam a se inspirar em sua linguagem — seja em parques, praças, condomínios ou até varandas. Seu traço permanece presente, reforçando a ideia de que o paisagismo deve ser mais do que decoração: deve ser cultura viva, acessível e transformadora.


Roberto Burle Marx transformou o Rio de Janeiro com seus projetos visionários, mas sua maior obra talvez seja a mudança de mentalidade que promoveu: o reconhecimento da flora brasileira como protagonista da paisagem, a união entre arte e ecologia, e o compromisso com o espaço público.

Seus jardins continuam vivos — não apenas no chão da cidade, mas na forma como pensamos a relação entre o urbano e a natureza. Em 2025 e nos anos que virão, sua influência seguirá florescendo.

Burle Marx não apenas plantou jardins. Ele plantou ideias.

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